Eu sempre tive preconceito com psiquiatra. Aquela coisa… você não conhece então o imaginário inventa. Filmes tem aos montes… Pois fui eu, pra uma clínica psiquiátrica, em 2020, daquelas com trocentos consultórios e pacientes esperando cada um no seu celular.
Veja bem, quando eu vou ao ginecologista eu não fico, jamais, imaginando o que aquelas mulheres estão fazendo ali. Coceira? Rotina? Grávida? Herpes? DIU? Mulheres vão ao ginecologista e pronto. Mas no psiquiatra…. hummmm…. eu olhava pra cada rosto tentando imaginar o que aquela pessoa estava fazendo ali. Que dor será que ela tem?
- Tentou se matar, será? Aliás, aqui as janelas todas têm tela, deve ser por isso. Será que tem toc? Limpa tudo sem parar? E aquele? Será que fala sozinho e ouve vozes? Desconectado da realidade? Seriam psicopatas? Serial killer? Compulsivos! Seriam todos depressivos? Daquelas clássicas que a pessoa não toma banho e não levanta da cama? Acho que não, senão não estariam ali…. - Meu diálogo interno totalmente ignorante no assunto não se calava.
Dois anos depois, eu já era um deles e nem mais pensava no assunto. Até que resolvi parar o remédio pra testar, vai que era uma fase, vai que a médica descobre que sou normal, claro, e que estava ali por acaso, por um tempo, quase um erro médico! Pandemia, sempre ela... Fiz o desmame certinho….
Um mês. Um mês sem o escitalopram. Um mês.
Eu não sabia que tinha um vulcão dentro de mim. Em atividade. Que explode quando o silêncio se faz. Um tornado que arranca raizes, folhas, telhados, construções inteiras. Terremotos que traz tsunamis de lágrimas após a destruição total.
- Vamos voltar a ser quem você é! - me disse a psiquiatra.
- Quem eu sou? Eu sou a erupção ou a natureza domada? Não sei mais não.
Lá estava eu, no mesmo lugar que achei que não retornaria mais, observando, novamente todas aquelas pessoas na sala de espera. Sou uma delas. Apesar que tem uma ali carregando uma boneca como se fosse um filho e que… tenho medo dela. Tenho mesmo. Se ela soubesse como é difícil criar um filho talvez não tivesse um de brinquedo. Ela é mais velha que eu. Será que sou assim e não me dei conta? Olho ao redor e só tenho minha bolsa. Não estou bem não.
Entro na consulta e saio falando sem parar “estou escitaloprada, pirei”. Ela ri, diz com calma que vamos reorganizar tudo de novo. Deve ser que nem eu faço com meus armários após um período de uso intenso sem tempo para colocar as coisas de volta no lugar, (re) organiza.
Imagino que a qualquer momento vai entrar alguém com uma camisa de força e me levar dali para aquelas clínicas de reabilitação de raiva. Não tinha um filme? O cara é levado para uma clínica anti raiva, mas ele não fazia nada demais, que nem eu... O mundo que me irrita, certeza. Eu pensava e ria por baixo da máscara, devo estar alucinando. Vão me dar injeção, certeza. Choque elétrico?
- Vamos voltar com o remédio e use 3 gotinhas de Rivotril no caaaaaso de precisar.
- Quantas vezes por dia? - tolinha eu, achando que é homeopatia, o qual eu também faço uso.
Saí de lá feliz com minha receitinha mágica de felicidade. Meus Hare Krishna, incensos, leituras, meditações, psicoterapia, tricôs, homeopatias, tudoooo vai fazer mais sentido agora, porque naaaada estava adiantando. As cores vão voltar ao normal, o fogo do meu dragão será…. será… não, ele não vai sumir, mas será usado na correta medida rsrsrs. Não dá pra deixar de ser eu e isso eu descobri naquela sala cheia de pessoas iguais a mim. Os remédios apenas, somente, rsrs, facilitam a minha convivência com outro seres humanos hahahahaha inclusive comigo mesma. Meu filho e namorado podem acordar tranquilos agora… respirem calmos, estou sendo domada. Gerúndio, porque a indústria farmacêutica é incapaz de criar um remédio psiquiátrico que nem Tilenol, tomou, passou.
Acho que essa crônica explica meu sumiço, mesmo que eu não precisasse explicar nada. Meu remédio ainda não começou a fazer efeito, então não me irrite.
;)
Que texto Carol! Me senti tão humana lendo, as vezes me pergunto também se a nossa versão correta é a domada ou é o dragão... Ainda não descobri, talvez umas taças de vinho pode nos ajudar.
Feliz retorno! Você é e sempre será, para mim, uma doce menina!