Tenho a sensação de estar sempre movendo pedras. Pedras no sapato. Pedras no olhar, pedras por toda parte, na estante de livros, na vida pessoal, no trabalho. Eu não demoro a sentir o incômodo, não sou a que aguenta dor e todos dão parabéns pela força. Não sou. Não senti nem dor do parto, meu corpo foi sábio.
Doeu eu olho. Incomodou eu fico me consumindo em achar uma solução. Achei mais eficiente que me consumir na dor. É como dormir com o filho que tem o pé na sua costela, eu empurro. - Francisco, vira pra lá! - e ele simplesmente se vira, tão fácil.
Leio um livro que tem um capítulo sobre as fases da metamorfose da borboleta, me identifico em alguma parte mas me questiono se não seria melhor conviver mais com as pedras ao redor, se essa minha constante insatisfação não seria um defeito de fabricação. Talvez eu devesse ficar mais lagarta, me demorar mais até partir pra próxima transformação.
Estou escrevendo aqui e pensando que esse texto não vai ter conclusão nenhuma, que talvez seja melhor parar, apagar e escrever outra crônica, outro dia, mas me lembrei da minha estante amarela socada de livros, papeis de escola, álbuns de fotografia e nenhum respiro. Apesar de amar e admirar esse móvel que mandei fazer no Rio especialmente pra mim, ela já estava me irritando.
Cancelei a manicure, desci a estante inteira, limpei quinas, prateleiras, páginas e capas, mudei de lugar, joguei fora o que não mais me servia, doei outros, coloquei em outro móvel os excessos e nasceu ali um respiro enorme no meio da minha sala. Fiquei feliz. Não tenho preguiça, tenho incômodo. A preguiça só existe quando as pedras não me doem, acabei de perceber isso. Ai que preguiça de academia, ai que preguiça de dieta, é isso, não me incomoda tanto assim… parei de beber por um tempo, zero álcool. Eu estava incomodada, muito. Parei. Só volto em novembro.
Não sei se meus incômodos são exagerados mas gosto de cômodos onde me sinta bem. Não consigo sentar em dores, abraçar a falta nem relaxar na dor.
Nem tudo me incomoda, mas qualquer incômodo me leva a entrar no casulo, me desmanchar inteira e sair de lá com uma estante amarela novinha, cheia de antigos livros reorganizados em novas prateleiras. Não é sobre o novo, é sobre destacar os bons. Não é sobre trocar os sapatos, mas tirar a pedrinha. Não troquei o chão, coloquei um tapete, não mudei a paisagem, só reparei nos dias de diferentes tons de azul.
Talvez eu pudesse me incomodar menos e esse talvez não está aqui no meu alcance. Então sigo entre metamorfoses doloridas ao invés de dores cômodas.
Até que consegui chegar ao final rsrsr
um beijo!
Carol :)
Gostou?
Ficou linda a estante e sei que é uma fortaleza, mas as vezes cansa, né? A vida é colorida como a estante e desarrumada tb, mas as vezes a gente arruma e faz sucesso! Beijoca!